terça-feira, 16 de janeiro de 2018

GRANDES DOUTRINAS DA FÉ CRISTÃ REFORMADA (1/5) ~ JOEL BEEKE




GRANDES DOUTRINAS DA FÉ CRISTÃ REFORMADA 
[PARTE 1/5 - 1 À 12]
A DOUTRINA DE DEUS
SÉRIE [57 ESTUDOS]
Rev. Joel Beeke
[Projeto Os Puritanos]

Dentro das fronteiras do universo em que a humanidade habita, existem dois tipos de seres. Existem aqueles seres que são dependentes uns dos outros. Esta categoria abarca tudo, de elefantes a lesmas, de anjos a demônios, de seres humanos a vírus. Contudo, existe um ser do qual todos os outros dependem. Somente ele é auto-existente – o grande Yahweh (“Jehovah” ou Jeová), que disse a Moisés que o Seu nome é “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo 3:14; ver também Apocalipse 1:4). Todos os outros seres extraem o seu sustento e existência a partir Dele. Ele é absolutamente único, de tal forma que Ele não depende (não precisa) de nada fora de Si mesmo. Apenas Ele possui o que os estudantes de teologia chamam de asseidade, o atributo da auto-existência (João 1:4; 5:26). Como Ele concede a vida para toda a criação, desde o maior objeto até a menor das partículas, Ele deve ser confessado como o único Criador e Deus (1Coríntios 8:6).​​

A confissão da Bíblia sobre a singularidade de Deus também pode ser encontrada na declaração de que Ele é santo (Isaías 6:3; Apocalipse 4:8). A santidade de Deus significa primeiramente que Ele é completamente diferente da Sua criação. Ele é o Criador, único e em controle completo de tudo o que Ele fez. Nós, seres humanos, somos limitados no que podemos fazer. Nosso conhecimento é finito, e nunca exaustivo. Nossas vidas nesta terra são relativamente curtas em duração e, frequentemente, perseguidas por experiências dolorosas — “desagradável, brutal e curta”, como o filósofo Thomas Hobbes uma vez descreveu. Deus não é assim. Ele é imortal, pode fazer tudo o que a Sua boa vontade decide, e não tem absolutamente nenhuma limitação. Dizer que Deus é santo significa falar da Sua singularidade, da Sua diversidade (ou alteridade) diante da Sua criação.

Homens e mulheres adoram a vários deuses. Tendo sido feitos à imagem do Deus verdadeiro, os seres humanos têm um insaciável desejo de adoração (ou prestar culto). Contudo, sendo seres caídos (pelo pecado), os seres humanos inevitavelmente adoram deuses fabricados por eles mesmos. João Calvino, o Reformador Francês, apontou precisamente que a mente humana é “uma perpétua fábrica de ídolos”. (Institutas da Religião Cristã, 1.11.8; cf. Romanos 1:18-25). O único remédio é a dádiva da visão espiritual, por parte de Deus, onde é concedido como que um raio de luz do céu, e as pessoas são despertadas para conhecerem ao Deus verdadeiro, e para conhecerem a si mesmas como Suas criaturas.

Deus é, portanto, soberano sobre a Sua criação. Ele concede vida e tira a vida, levanta nações e montanhas, e também as rebaixa, traz sóis para a luz, e os estingue. Nada pode detê-Lo. O que Ele decide, certamente acontece, e neste exercício de soberania está a Sua glória.

Os seres humanos têm o privilégio e a responsabilidade de reconhecer esta soberania de Deus. Contudo, eles só podem fazer isto quando Deus inclina os seus corações. Por natureza, eles são rebeldes, desprezando a Sua autoridade, e agindo contra o que eles instintivamente sabem, e também declarando que Deus não existe.

Contudo, Ele existe sim! O cristão tem mais certeza disto do que qualquer outra coisa que ele ou ela saiba. Assim, o “doce deleite” (emprestando uma frase de Jonathan Edwards, o pregador evangélico do século XVIII) do cristão é submeter-se a este grande Deus, reconhecendo a sua total dependência Dele, e vivendo para Ele e para a Sua glória. Portanto, o discurso cristão sobre Deus é muito mais do que uma discussão filosófica sobre a Sua existência. É o próprio deleite, para o cristão, vir a conhecer o único e verdadeiro Deus, e conhecendo-O, encontrar significado para a vida e, certamente, a vida eterna (1João 5:20) – na qual o cristão vai desfrutar eternamente o conhecimento, o amor e a comunhão com o Deus triuno, tendo gozo no Seu sorriso e banqueteando na Sua presença.

2/57 - A DOUTRINA DE DEUS — OS NOMES DE DEUS
“Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável, em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade, e verdade” (Breve Catecismo de Westminster, Questão 4). Consequentemente, Ele é incompreensível; o homem é incapaz de pensar sobre tudo o que Deus é. Desta forma, qualquer auto-revelação da parte de Deus, é um ato gracioso e condescendente de Deus para com a compreensão limitada do homem.

Os nomes (ou títulos) de Deus são alguns dos caminhos-chave por meio dos quais Deus revela a Si mesmo. Estes nomes são mais do que apenas rótulos ou etiquetas de identificação; eles são descrições proposicionais de alguns aspectos das Suas infinitas Pessoas. Consequentemente, eles não podem ser usados ao acaso (à esmo), e não devem ser desconsiderados durante a leitura das Escrituras.

Existem, de uma maneira geral, três categorias para os nomes de Deus: (1) proposicional, expressando algum fato pertinente à sua divindade, tais como “Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18-22) e “Deus eterno” (Gênesis 21:33); (2) histórico, comemorando algum encontro com Deus (como Jeová Jireh, “o Senhor proverá” - Gênesis 22:14; ver também Gênesis 16:13; Êxodo 17:15); (3) pessoal, declarando alguma experiência individual (“o Deus de Abraão”, “o Deus de Isaque”, etc.).

Aqui está uma breve explicação de alguns nomes proposicionais comuns no Antigo Testamento:

Jeová. Este é o nome pessoal de Deus, especialmente ligado ao Seu pacto de graça e misericórdia. Derivado do verbo “Eu sou” (explicado no episódio da sarça ardente, encontrado em Êxodo 3), este nome declara a autossuficiente independência, eternidade e soberania de Deus. Ainda, de maneira extraordinária, Jeová é o principal nome de Deus usado em contextos de salvação. Embora Deus seja infinitamente independente de qualquer coisa fora de Si mesmo, Ele está disposto a ter comunhão íntima com o homem, particularmente através do pacto da graça. Jeová, portanto, é frequentemente considerado como o “nome pactual” de Deus. Na versão King James (KJV), este nome é sempre traduzido em letras maiúsculas como “SENHOR”, ou ocasionalmente como “DEUS”. [As versões em português, traduzidas por João Ferreira de Almeida - JFA, particularmente a versão Almeida Revista e Atualizada - ARA, também seguem este mesmo padrão, segundo as explicações encontras no prefácio escrito pela Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, onde está escrito: “A palavra 'Senhor' sempre é escrita 'SENHOR', com letras maiúsculas, quando no texto original hebraico aparece o nome de Deus 'Javé' (Gênesis 2:4)”].

Deus. Este é o termo mais geral para a deidade. A palavra em hebraico pode estar tanto no singular (El), quanto no plural (Elohim). Ambas enfatizam a grandiosidade de Deus. Ele é “Todo-Poderoso”; Ele possui toda a autoridade; Ele é capaz realizar o que Lhe apraz. Este título também magnifica a transcendência de Deus; Ele é exaltado acima de toda a criação, incluindo o homem. A forma no plural significa a sua majestade ou excelência, que realça o Seu poder e grandiosidade, com ainda maior ênfase. De forma significativa, esta é a Sua primeira auto-revelação: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1, ver também Salmos 19:1). Ele é o Criador.

Senhor. O título Adonai descreve Deus como o Proprietário e Mestre supremo de tudo. Tudo pertence a Ele, e Ele governa tudo de acordo com os Seus próprios propósitos, para a Sua própria glória. Este nome declara a Sua absoluta soberania ou realeza. Reis terrenos vêm e vão, mas o Rei celestial reina, supremo, para sempre (Isaías 6:1). Todos os homens e todas as nações, quer tenham conhecimento Dele ou não, estão sujeitos à Sua autoridade e devem responder (se reportar) a Ele. Ele é o Soberano sobre toda a terra; todos irão se curvar diante Dele (2Reis 7:6; Salmos 110:5; Daniel 1:2; Amós 1:8). Na versão KJV, este título é traduzido como Senhor, para distinguir de Jeová, que é  escrito como SENHOR.

Deus Todo-Poderoso. Apesar deste título ocorrer mais frequentemente no período patriarcal, especialmente no livro de Jó, ele não é limitado somente a este período. Em hebraico, significa El Shaddai. As opiniões diferem no que diz respeito à tradução, contudo é mais provável que o significado seja “o Deus que é suficiente”. Ele é completamente capaz de manter (ou cumprir) cada uma das palavras das Suas promessas, mesmo quando o cumprimento parece impossível. Nada é muito difícil para El Shaddai. Assim, mesmo que a perspectiva de uma grande nação descendente de Abraão pareça impossível, por trás da promessa está El Shaddai, e, portanto, ela é certa (Gênesis 17:1; 35:11-12).

Senhor dos Exércitos. Significa “Jeová dos exércitos”, uma expressão militar que identifica Deus como o “Comandante” que tem toda a autoridade e patente infinita para ordenar as Suas tropas a completar a Sua vontade. Este título ocorre mais frequentemente durante o período da monarquia (Samuel, Reis, Crônicas, Salmos, e os Profetas). Dependendo do contexto, o exército pode estar se referindo à Israel, aos anjos, aos corpos celestiais (estrelas e planetas), ou até mesmo à toda a criação. O ponto importante é que Deus tem o poder, a autoridade e os recursos ao Seu comando, para fazer e alcançar todos os Seus planos e propósitos. Não importa quão grande seja a promessa, ou quão séria seja a ameaça, o “Senhor dos Exércitos” estará no comando e irá concretizar. Note, por exemplo, que Zacarias usa esta expressão cerca de cinquenta vezes na sua profecia, para reforçar a certeza de cada uma das palavras do Senhor (ver também Isaías 6:1-4).

3/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A TRINDADE
Parte da extraordinária herança que a Igreja recebeu de Israel é a convicção de que existe um – e apenas um – Deus. Em diferentes passagens, e de várias formas, os escritores dos livros do Novo Testamento reafirmam este alicerce de confissão do antigo povo da aliança, “nosso Deus, é o único SENHOR” (Deuteronômio 6:4). À esta grande confissão de monoteísmo, o Novo Testamento adiciona duas afirmações vitais. Primeiro, o Novo Testamento, inspirado por Deus, mantém inequivocamente que Jesus é o único e verdadeiro caminho para conhecer a Deus. Segundo, existe a profunda convicção de que conhecer ao único e verdadeiro Deus é a mesma coisa que conhecê-Lo na forma de três Pessoas. Não é outro, senão Jesus, quem conduz o Seu povo por este caminho, quando Ele ordena aos Seus discípulos – e, através deles, a igreja – que batizem os crentes no divino “nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Aqui encontramos os nomes de Pai, Filho e Espírito Santo, coordenados de tal maneira que implica na sua igualdade e na sua distinção como Pessoas, mas é feita apenas a menção do nome peculiar das três, sendo esta uma indicação distinta da sua unidade.

Existem inúmeras passagem nas cartas do apóstolo Paulo onde estas três Pessoas da Trindade estão ligadas entre si como fontes conjuntas das bênçãos que pertencem aos crentes em Cristo. Por exemplo, podemos citar a bênção em 2 Coríntios 13:14, e também a forma pela qual Paulo, em 1 Coríntios 12:4-6, traça as várias manifestações da graça de Deus na igreja – primeiro, do Espírito, depois do Senhor Jesus, e, finalmente, de Deus, o Pai.

Em outras partes do Novo Testamento, o mesmo fenômeno é observado. Nas cartas externas ao corpo Paulino, como o teólogo Presbiteriano B.B. Warfield enfatiza, em todo lugar é assumido que as obras redentivas de Deus se apoiam em uma fonte  tríplice, nas Pessoas da Trindade. Pedro pode falar dos santos de Deus em várias regiões da Ásia Menor como sendo “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pedro 1:2). Judas escreve sua breve carta para encorajar seus leitores a permaneceram firmes contra a apostasia, através da oração no Espírito Santo, guardando a si mesmos no amor de Deus, e esperando a misericórdia do nosso Senhor Jesus Cristo (Judas 20-21). O autor de Apocalipse declara às sete igrejas para as quais ele escreve “graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo” (Apocalipse 1:4-5).

Particularmente rico em linguagem Trinitariana é o Evangelho segundo João. Em passagens bem iniciais deste Evangelho nos é dado a conhecer que Deus concedeu o Espírito em medida ilimitada para Jesus, pois “O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos” (João 3:34-35). No discurso de despedida (encontrado em João 14-16), Jesus fala aos seus discípulos, “o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 14:26). Outros versos nesta seção do Evangelho segundo João, contudo, afirmam que Jesus é Aquele que iria enviar o Espírito (João 15:26; 16:7). O Espírito é enviado no lugar de Jesus como um “outro Consolador” (João 14:16, ênfase acrescentada), mas apenas através da presença do Espírito na vida dos discípulos nos quais Jesus, e o Pai, também estão presentes (João 14:23). Como os outros autores do Novo Testamento, João não usa a palavra Trindade, mas os elementos da fé Trinitariana estão claramente presentes.

Portanto, ao longo dos séculos, a Igreja tem corretamente ensinado que Deus é “três divinas e co-iguais Pessoas que dividem um único ser”. Uma consideração cuidadosa das Escrituras revela que esta doutrina da Trindade fundamenta, molda e informa a todos o que a Bíblia nos ensina acerca de Deus.

4/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A ETERNIDADE DE DEUS
A palavra eternidade é facilmente pronunciada, mas dificilmente compreendida. Isto é devido, em parte, à efemeridade da natureza do homem, como uma criatura limitada ao tempo. A eternidade, estando em conflito com o tempo, é um atributo de Deus, que está muito além da mente humana. A eternidade é uma duração perpétua, não havendo nem começo nem fim; o tempo tem ambos (começo e fim). A eternidade e o tempo diferem muito, da mesma forma que o mar e os rios: o mar nunca muda de lugar e constitui sempre uma água, mas os rios fluem e são engolidos pelo mar. O mesmo o corre com o tempo em relação à eternidade.

Esta dificuldade de compreender a eternidade é aumentada porque este termo também é usado para descrever coisas que são apenas parcialmente perpétuas, e não propriamente eternas. O termo eternidade pode ser usado para descrever algo que tem uma longa duração, mas que possui um fim (Gênesis 17:8; Levítico 6:20; Deuteronômio 15:17), ou para algo que não tem fim, embora tenha tido um começo – como os anjos e as almas. No entanto, quando a palavra eternidade é usada para Deus, ela significa algo além; como as Escrituras atestam, “de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmos 90:2). Portanto, a palavra eternidade, neste sentido, refere-se à duração da essência de Deus. Quando Deus é denominado eterno, todas as possibilidades de começo e fim – qualquer fluxo e mudança – são excluídas. Consequentemente, a eternidade de Deus é melhor compreendida negativamente, como uma negação de que Deus tem qualquer medida de começo, fim ou sucessão.

Deus é sem começo, sendo o Deus eterno (Gênesis 21:33; Romanos 16:26; cf. Gênesis 1:1; Daniel 7:9). Isto é necessário, de acordo com a existência de Deus e Seu papel como Criador, pois, se Deus existe, e Ele não recebeu o Seu ser à partir de outro, então Ele deve existir desde a eternidade.

Deus é sem fim. Este aspecto se refere à imortalidade, sobre a qual a Escritura fala mais frequentemente do que os outros aspectos da eternidade de Deus. Ele deve permanecer para sempre (Salmos 9:7; Tiago 1:17; Apocalipse 4:9-10). Seus anos são incontáveis (Jó 36:26-27). Isto é evidente através do nome que Ele deu a Si mesmo (Êxodo 3:14) e através do fato de que Ele é vida em Sua própria essência (Daniel 6:26; João 5:26; cf. Atos 17:28; 1 Timóteo 6:16).

Deus é sem sucessão. Ele é sempre o mesmo (Salmos 102:27; Hebreus 1:10-12) e não tem nova progressão de quantidades ou qualidades em Si mesmo. De uma criatura, pode ser dito que “ele foi”, “ele é”, ou “ele será”, mas em relação a Deus, a única coisa que pode ser dita é “Ele é”. Não há acréscimo no Seu conhecimento (Atos 15:18) ou flutuações nos Seus decretos (Efésios 1:4). Não há nenhum cancelamento ou revogação de qualquer um dos Seus atributos. Além disso, se Deus não fosse eterno, todos os Seus outros atributos seriam mutilados e irreconhecíveis. Deus não seria imutável (cf. Jó 37:23; Malaquias 3:6), infinitamente perfeito (cf. Jó 11:7; Salmos 41:13), onipotente (cf. Isaías 2:22; Apocalipse 1:8), ou a causa primária de tudo.

A eternidade de Deus contém uma palavra tanto para o descrente quanto para o Cristão. Para o primeiro, a eternidade de Deus é um terror. Quanta loucura e ousadia há no pecado, uma vez que um Deus eterno é que está sendo ofendido! Todo pecado é agravado pela eternidade de Deus. A escuridão da idolatria pagã trocou a glória do Deus incorruptível pelas coisas contrárias à Sua natureza imortal (Romanos 1:23). É terrível estar sob o poder da indignação deste Deus eterno, que é o “Deus vivo e o Rei eterno… e as nações não podem suportar a sua indignação” (Jeremias 10:10). A eternidade de Deus torna a sua punição mais ameaçadora do que somente o Seu poder: o Seu poder torna a ameaça afiada, mas a Sua eternidade a torna perpétua – o durar para sempre é a aguilhão na ponta de cada chicoteada.

Contudo, para o Cristão, a realidade de que Deus “reina eternamente” (Lamentações 5:19-20) é a fonte de conforto. Paz é encontrada na comunhão com o eterno Deus misericordioso, bom, sábio e fiel. A Sua eternidade governa a Sua aliança com o Seu povo – portanto, Ele jura por Si mesmo (Hebreus 6:13,16,17; Apocalipse 14:6; cf. Apocalipse 4:3), e, portanto, o crente pode proclamar, “este é Deus, o nosso Deus para todo o sempre” (Salmos 48:14), e “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração” (Salmos 90:1; cf. Gênesis 49:26). Além disso, a eternidade de Deus assegura que o desfrutar de Deus no Céu será tão novo e glorioso, mesmo depois de muitas eras, como se fosse a primeira vez.

5/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A IMUTABILIDADE DE DEUS
Na seção final da epístola aos Hebreus, onde o autor delineia as implicações de termos recebido “um reino inabalável” (Hebreus 12:28), onde nos é dito que Jesus Cristo, “ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus 13:8). Os atributos de Jesus, como são retratados nos Evangelhos – amoroso e gentil com os pecadores, santo e completamente livre de pecado – não se alteraram nem um til (“iota”, em hebraico), mesmo que Ele hoje esteja assentado à destra de Deus, e seja o Sustentador de tudo o que existe. Cristo é amor eterno e santo. Se Ele fosse mutável, Ele simplesmente não seria Deus. O mesmo tem que ser verdadeiro para o Seu Pai (Êxodo 34:6-7). Deus, o Pai, também é imutável, e como Seu Filho – e, devemos acrescentar, como o Espírito Santo – Ele é amor santo.

O caráter moral de Deus é, no tempo presente, o mesmo que foi quando Ele criou o universo, quando Ele chamou Abraão para a fé em Si mesmo, e quando Ele conduziu Israel para fora da escravidão, até a Terra Prometida. Ele sempre odiou o pecado e sempre amou a justiça – Deus nunca age de maneiras que sejam contrárias ao Seu caráter (Tiago 1:17). Portanto, a Palavra de Deus não muda: “Para sempre, ó SENHOR, está firmada a tua palavra no céu” (Salmos 119:89); elas são “tudo verdade desde o princípio”, e “cada um dos” “justos juízos” de Deus “dura para sempre” (Salmos 119:160).

Nem os planos nem os propósitos de Deus podem mudar: “O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações” (Salmos 33:11). Deus nunca tem que reavaliar os seus planos, pois eles são baseados em Seu absoluto e exaustivo conhecimento de todas as coisas do passado, presente e futuro. Os homens, por outro lado, mesmo os melhores de todos, são inconstantes, pois o seu conhecimento é incompleto e eles frequentemente precisam fazer planos alternativos. Eles não conseguem prever emergências que podem alterar completamente o panorama de suas vidas, e que os forçam a mudar de planos. Portanto, Deus fala de Si mesmo de uma forma que contrasta com o ser humano: “a Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem para que se arrependa” (1 Samuel 15:29). A humanidade e, na verdade, toda a criação, está atualmente no processo de “se tornar”. Mas não Deus.

Como Deus não muda, o Seu povo tem esperança: “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias 3:6). É por esta razão, como observado por Herman Bavinck, que Deus é tão frequentemente denominado de “a Rocha” na Escritura (e.g., Deuteronômio 32:4,15,18,30-31; 1 Samuel 2:2; 2 Samuel 22:32; Salmos 19:14; 31:3; 62:2,7). Nas palavras de Bavinck, “Nós, humanos, podemos confiar Nele; Ele não muda no Seu ser, conhecimento ou vontade”.

Sim, existem passagens na Escritura Sagrada que falam de Deus se arrependendo (Gênesis 6:6; 1 Samuel 15:11; Amós 7:3,6; Jonas 3:9-10; 4:2). Como podemos compreender estes textos? Alguns deles deles contém o que os teólogos chamam de antropomorfismos, ou seja, descrições de Deus em termos humanos. Ainda, alguns destes textos incluem mudanças na relação do homem com Deus e, no entanto, descrevem mudanças na orientação por parte de Deus. Então, quando os habitantes de Nínive se arrependeram, Deus não os puniu. Não houve alteração nenhuma nos planos de Deus. Ele pretendia punir a cidade se os seus ocupantes não se arrependessem dos seus pecados. Eles mudaram e foram poupados; portanto, foi o povo de Nínive que mudou, não Deus.

Portanto, aqueles que argumentam hoje que Deus, como o restante da realidade, está no processo de “se tornar” (os defensores do assim chamado “teísmo aberto”), não têm justifica Bíblica alguma para isto. Na mente destes pensadores, Deus está aprendendo e se desenvolvendo, sempre em mudança para um ser mais perfeito. Esta perspectiva não afunda somente por causa de problemas filosóficos, mas também fracassa frente a claras evidências Bíblicas, como as mostradas acima e em muitas outras passagens da Escritura.

6/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A PRESCIÊNCIA DE DEUS
O conhecimento de todas as coisas é apropriadamente atribuído a Deus (2 Coríntios 12:2-3; cf. Atos 2:23; Romanos 8:29; 11:2; 1 Pedro 1:2). O conceito de presciência pode ser usado de duas formas: como uma expressão do conhecimento de todas as coisas, mesmo antes que elas aconteçam no tempo, e também como um ato de escolha ou ordenamento. A primeira é o assunto sendo considerado neste texto; A última é tratada brevemente no texto sobre eleição.

O conceito de presciência está relacionado às coisas conhecidas por Deus e à ordem nas quais elas se apresentam umas às outras como elas são, sejam para nós o passado, o presente, ou o futuro. A todas estas coisas Deus conhece igualmente desde a eternidade. Coisas que para nós são ainda do futuro, já foram conhecidas por Deus desde a eternidade; o Seu conhecimento do futuro é tão real e verdadeiro que quando os eventos se tornam “passado” para nós (baseados na efetiva ocorrência no tempo), Deus os conhece da mesma forma que Ele fez anteriormente. Nada é alterado no Seu conhecimento por causa da passagem do tempo; a Sua compreensão é infinita e imutável.

Algumas pessoas se opuseram à premissa do perfeito e completo conhecimento de Deus sobre todas as coisas, antes da ocorrência delas. Esses desafiadores apontam para passagens na Escritura que parecem sugerir a falta de conhecimento de Deus: Deus receoso ou sendo amedrontado (Gênesis 3:22-23; Êxodo 13:17; Deuteronômio 32:26-27); Seu arrependimento (1 Samuel 15:10-11); uma mudança ou alteração da Sua mente (Números 14:27,30; 1 Samuel 2:30); ou Ele testando o coração humano para descobrir o seu conteúdo (Juízes 3:1,4; 2 Crônicas 32:21; Daniel 12:10).

Contudo, cada uma dessas passagens fala de Deus de uma maneira figurativa, ou  antropomorficamente. Portanto, estas passagens não descrevem a natureza de Deus como Ele é. Ao invés disso, Ele é condescendente conosco e fala ao nosso nível, para expressar a realidade em termos humanos. Esse conceito pode ser ligado à conversa de um pai com um recém-nascido. O pai balbucia em “linguagem infantil” para se acomodar ao nível do bebê.
Em outras passagens da Escritura é diretamente dito que Deus não faz essas coisas, pois Ele não é um homem (1 Samuel 15:29). Essas características destruiriam a imutabilidade de Deus. Por exemplo, como pode Deus, em sua onipotência e natureza verdadeira, ter medo no mesmo sentido em que nós experimentados o medo? Adicionalmente, a abundância de evidência escriturística em favor do conhecimento de Deus demostra indubitavelmente a verdade da doutrina da Sua presciência.

A Escritura atesta que Deus conhece todas as coisas em todos os detalhes, quer seja o passado, o presente, ou o futuro. Ele compreende todos os caminhos e ações do homem, até mesmo antes deles ocorrerem (1 Samuel 2:3; Salmos 139:2-4; 147:5; Isaías 40:13-14,28; Atos 15:18; Romanos 11:36; Hebreus 4:13; 1 João 3:20). O incontável número de milagrosas predições na Escritura requer um detalhado conhecimento de todas as coisas. Através dos seus santos profetas, Deus predisse as livres ações dos homens, o que eles iriam fazer e o que eles deveriam fazer, muito tempo antes de que eles tivessem nascido (cf. Gênesis 15:13-14; 18:18-19; Deuteronômio 31:16-18; 1 Reis 13:2; 22:28; Mateus 24:5; Marcos 13:6; 14:30; Atos 20:29; 2 Tessalonicenses 2:3,4; 1 Timóteo 4:1; 2 Timóteo 3:1; 2 Pedro 2:1). Portanto, Deus sabia perfeitamente, desde a eternidade, todas as livres ações do homem antes que eles as tivessem realizado. Este conhecimento se estende até mesmo àquelas coisas que dizem respeito aos segredos dos corações dos homens (Deuteronômio 31:21; 1 Samuel 16:7; 23:12; 1 Reis 8:39; 2 Reis 8:12-13; Jó 31:4; Salmos 38:9; 94:11; Provérbios 15:11; Isaías 48:4; Jeremias 17:9-10; Ezequiel 11:5; Mateus 6:4,6,8; Lucas 16:15; Atos 1:24; Apocalipse 3:15).

Algumas pessoas interpretam erroneamente a presciência de Deus em relação às ações de todos os homens como a causa lógica e a priori da Sua predeterminação de todas as coisas. O conhecimento de Deus, eles incorretamente presumem, faz Deus moldar o Seu plano para a eternidade. Contudo, enquanto tanto a presciência quanto o conselho predeterminado de Deus ocorrem desde a eternidade (considerada temporalmente), a presciência de Deus deve ser interpretada como vindo depois da Sua predeterminação (considerada logicamente). O conhecimento de Deus sobre as livres ações futuras dos homens não O faz adaptar as Suas obras para ficarem de acordo com isto – pois colocaria Deus abaixo do homem, como Aquele que é reativo e sujeito, ao invés de determinante e soberano. Certamente, o que não é pré-decretado não pode ser certeza e, portanto, não pode ser conhecido. No entanto, mediante a determinação do conselho soberano de Deus, desde a eternidade, a Sua presciência se estende para uma compreensão de todas as coisas – também desde a eternidade.

7/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A SABEDORIA DE DEUS
A sabedoria de Deus é um dos Seus atributos infinitos, eternos e imutáveis (Breve Catecismo de Westminster, Q.4). A sabedoria de Deus não é apenas uma de Suas perfeições divinas, mas ela designa a própria Pessoa de Deus, mais especificamente a Segunda Pessoa da Trindade.
Uma coisa essencial para compreender o significado da sabedoria, tanto como uma perfeição divina quanto como uma Pessoa, é compreender o significado da palavra sabedoria, que diz respeito simplesmente à habilidade. A esfera de aplicação desta habilidade é definida pelo contexto no qual a palavra ocorre. Na época do Antigo Testamento, quando alguém era considerado bom, era levada em conta a sua sabedoria.

Sabedoria, como uma perfeição divina, destaca a habilidade infinita de Deus para fazer o que quer que seja apropriado para Deus fazer. Ela está relacionada ao Seu infinito conhecimento, à Sua onisciência, na qual Ele conhece todas as coisas. Ela também está relacionada ao Seu infinito poder, Sua onipotência, na qual Ele pode fazer todas as coisas. Na Sua infinita sabedoria, Deus usa os melhores meios possíveis para alcançar os melhores fins possíveis. O Seu conhecimento abrangente de tudo está acoplado com a Sua habilidade de realizar os Seus propósitos. Ele é onisciente; portanto, Deus é infinitamente bom em tudo o que Ele faz.

As operações da sabedoria de Deus ocorrem principalmente em Suas obras de criação e providência. A criação é uma atividade divina singular, que fornece evidência do infinito poder de Deus para trazer o Seu propósito e plano à realização: “O SENHOR com sabedoria fundou a terra” (Provérbios 3:19). Com habilidade infinita, Ele chamou o mundo à existência. A providência é o trabalho contínuo da sabedoria de Deus, pelo qual Ele preserva e dirige a Sua criação ao fim que Ele propôs para a Sua própria glória. Esta sábia providência se estende à ordem natural, conforme Ele define o curso para os oceanos, os ventos, o clima, e as migrações de animais (Jó 28:26; 37:1-24; 38:10-11; 39:26; Eclesiastes 1:6-7). Ela também engloba a ordem moral, se estendendo para todos os caminhos e motivos do homem (Provérbios 15:11; 16:2). O desafio do Senhor para Jó sentar no trono e governar testifica o Seu absoluto controle (Jó 40:8-14). As obras de providência são frequentemente misteriosas: “Donde, pois, vem a sabedoria...  Está encoberta aos olhos de todo vivente” (Jó 28:20-21). Contudo, mesmo quando as circunstâncias da vida parecem estar fora de controle, nós podemos descansar, assegurados de que Deus, de acordo com a Sua sabedoria, está cooperando todas as coisas para o bem (Romanos 8:28). Ele sabe o que Ele está fazendo, e Ele o está fazendo da melhor forma possível, para alcançar o melhor fim possível. Confie em Sua sabedoria.

Sabedoria, como uma Pessoa divina, é um título de Cristo. Os capítulos 1, 8 e 9 de Provérbios empregam a palavra Sabedoria para se referir à pessoa do Messias, e não apenas para personificar uma perfeição divina. O modo como Provérbios chama o Messias de “Sabedoria” não é muito diferente de como Isaías chama Deus de “O Santo de Israel”. Ambos os títulos usam uma das perfeições do Senhor para o designar. O Novo Testamento sanciona ou valida a interpretação messiânica. Considere estes textos neotestamentários para identificar Cristo como Sabedoria: Mateus 11:19,25-30; 23:34; Lucas 11:49; 1 Coríntios 1:24,30; Colossenses 2:3.

O texto de Provérbios 8 talvez traga a descrição mais detalhada da Sabedoria; ele estabelece três vertentes de evidência que apontam para a identificação messiânica. Primeiro, a Sabedoria é Deus. A Sabedoria é distinta de Deus, falando de Deus na terceira pessoa (vv. 27-30), contudo ele faz declarações que demandam a divindade. Isto reflete a relação trinitariana entre o Pai e o Filho. Por exemplo, existem pelo menos dez declarações sugerindo que a Sabedoria esteve presente antes da criação (vv. 22-30), e envolvida na obra de criação (v. 30, ver explicação nas notas de Provérbios). Compare isto com João 1:1,3; a única diferença é que João chama Cristo de “o Verbo” [ou “a Palavra”], enquanto Salomão [em Provérbios] chama Ele de “Sabedoria”. Em segundo lugar, a Sabedoria é o Messias. Ela faz o que, em outro ponto da Escritura, o Messias faz. Isto é particularmente verdade em Provérbios 8:1-21. Como Profeta, a Sabedoria proclama a Palavra de Deus (vv. 6-8). Como Rei, a Sabedoria exerce governo absoluto sobre os menos nobres (v. 16). O que Isaías fala sobre o Messias em sua profecia (Isaías 11:2) corrobora o que Salomão fala em Provérbios 8:12-14. Em terceiro lugar, a Sabedoria é o objeto da fé salvadora (v. 17; cf. João 6:37). A fé salvadora tem sempre e somente a Cristo como seu objeto.

8/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A SANTIDADE DE DEUS E A NOSSA
Santidade, em ambas as línguas usadas na escritura, carrega a ideia definitiva de separação. Ambos os testamentos consistentemente enfatizam a ideia de ser separado, contudo, frequentemente há uma distinção nas suas ênfases. O Antigo Testamento frequentemente identifica a santidade no sentido físico, denotando uma limpeza exterior (Levítico 11:44-47). O Novo Testamento enfatiza a santidade no sentido espiritual, indicando pureza de coração e mãos (Romanos 12:1; 1 Pedro 2:5).

Através de toda a Escritura, pode-se observar uma ordem clara para o crente: “Sede santos, porque eu sou santo” (Levítico 19:2; 1 Pedro 1:16). Como os filhos se assemelham a seus pais, também os crentes devem parecer com o seu Deus (Efésios 4:24; 5:1; Filipenses 2:15; 1 João 5:18).

A santidade de Deus

Não há nenhum adjetivo mais prefixado ao nome de Deus do que santo. O livro de Isaías, carregado com proclamações de santidade, serve como um exemplo de como a Escritura expõe as riquezas da santidade de Deus: Deus é “o Santo” (“Holy One” ocorre vinte e seis vezes na versão KJV, em inglês), e os anjos clamavam “Santo!” três vezes (Isaías 6:3; cf. Apocalipse 4:8). A santidade de Deus é tida como a própria essência do Seu ser (Isaías 57:15). Quão majestosa – quão gloriosa – é a Sua santidade (Êxodo 15:11)!

Em primeiro lugar, Deus é santo em Sua separação em relação à toda a criação. Ele é completamente diferente. Isto significa que Ele é inteiramente distinto e separado de todo o resto: “A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? – diz o Santo” (Isaías 40:25). “Não há santo como o SENHOR” (1 Samuel 2:2; também Apocalipse 15:4).

Em segundo lugar, Deus é santo especificamente em Sua separação do pecado. Isto é expresso tanto de maneira negativa, quanto positiva: Ele é separado do pecado e para a justiça. Negativamente, Deus é absolutamente não poluído pelo mal. Na verdade, Ele não pode suportar a iniquidade (Habacuque 1:13); a Sua repugnância em relação à impiedade é infinita (Amós 5:21); e Sua ira se dirige àqueles que são os praticantes da iniquidade (Salmos 5:5). Ai daquele que se aproxima deste Santo sem as vestes sagradas de Cristo!

De maneira positiva, Deus é separado para a justiça (Salmos 145:17), que Ele ama (Salmos 11:7; Hebreus 1:9). Desta forma, Deus concede honra à Sua lei, pois esta é a substância da Sua santidade (Isaías 42:21). Esta santidade faz com que tudo se ofusque diante do brilho da sua luz. Sua santidade é Sua incomparável beleza (2 Crônicas 20:21; Salmos 29:2). Adicionalmente, a santidade de Deus é tão grande que, ao invés de aceitar um pecador, Ele matou Seu próprio Filho.

A nossa santidade

Embora não contenha nenhuma luz própria, o espelho subjuga os olhos quando reflete a luz do sol. Como crentes, somos chamados a brilhar com a santidade de Deus mais do que seremos capazes de durar nesta vida. Nós devemos ser preenchidos internamente em santidade, em nossos corações e mentes; e devemos transbordar externamente em santidade, alcançando todos os aspectos da vida. Santidade é, portanto, um compromisso para toda a vida, vivendo coram Deo. Levítico 20:26 torna claro que a santidade de Deus nos chama a sermos santos: “Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo”. Nós somos chamados para lutar por vidas santas (Hebreus 12:14), pois a santidade deve seguir, e seguirá a regeneração (Efésios 1:4; Filipenses 3:12). Santidade é o nosso jubiloso dever diante de Deus, como “filhos da obediência” (Neemias 8:10; 1 Pedro 1:14).

Descrevendo a santidade dos crentes, Stephen Charnock identificou o Pai como a fonte, o Filho como o modelo, e o Espírito como o impressor da santidade. O Pai é a fonte de santidade que nos santifica (João 17:11,17). Para limar a nossa imundícia, o Pai envia Cristo para remover a culpa do pecado e o Seu Espírito para remover a mácula do pecado (Efésios 1:4; Colossenses 1:22; 2 Timóteo 1:9). O Filho é o modelo para a nossa santidade, pois fomos feitos conforme a Sua imagem (Filipenses 2:5-8). Como Cristo é puro, também são aqueles que têm esperança Nele (1 João 3:3). O Espírito é aquele que nos estampa, carimba ou sela com a santidade de Deus. Ele transforma pecadores em santos, nos trazendo em submissão à Sua mente (1 Coríntios 2), e santificando-nos para perseguirmos as coisas do Espírito (Romanos 8:5).
 
Deus chama cada um de nós para andar em Sua santidade: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Provérbios 23:26). Esforcemo-nos, em Seu caminho, com toda a santidade de vida (1 Pedro 1:13-23).

9/57 - A DOUTRINA DE DEUS — O AMOR E A JUSTIÇA DE DEUS
O amor de Deus é a peculiar benevolência que Ele possui como o próprio Deus de amor (1 João 4:8). O seu amor intra-trinitariano é o deleite que Deus tem em Si mesmo (cf. João 5:20). Esta é a base do amor que Deus expressa para Suas criaturas, o qual pode ser classificado como geral, ou especial. O primeiro, está relacionado ao desejo de Deus em abençoar todas as Suas criaturas (Salmos 145:9), enquanto o último tem os eleitos particularmente como seu objeto (João 3:16; Efésios 5:25). Este é o deleite paternal especial de Deus em Seus eleitos, conforme eles são visualizados  através das lentes de Cristo, propriamente dito (João 16:27; Colossenses 2:10). Este amor faz com que os eleitos sejam aceitos, em nome do amado Filho de Deus (Efésios 1:4-6). Redenção apontada, redenção cumprida, e redenção aplicada, tudo a partir do imutável amor do Deus triúno, que nunca cessa (Lamentações 3:22; cf. Romanos 5:8; 1 João 4:10).

A justiça ou retidão de Deus é a Sua contínua perfeição e permanência de acordo com o padrão do que é puro e correto – que é Ele mesmo. Exercitada nas Suas criaturas, a justiça de Deus consiste na execução de julgamento, tanto para recompensa quanto para punição, de acordo com o que é merecido, e determinado pelo padrão da Sua santa lei. Todos as Suas obras são justas (Gênesis 18:25; Salmos 7:9).

A justiça de Deus é completamente retributiva, quer seja na Sua recompensa ou na Sua punição. Isto se opõe à justiça da troca mútua ou justiça remunerativa. Como as obras do homem são vis e imundas (Isaías 59:2-12; Romanos 3:10-18), não pode haver  correlação apropriada entre as obras do homem e a remuneração de Deus. Deus nunca é constrangido ou está em débito com quem quer que seja; ao invés disso, Ele executa Sua justiça de acordo com a Sua norma perfeita.
Além disso, como Ele age não em resposta ao homem, mas de acordo com a Sua própria vontade, Deus é justo tanto na condenação de uns (Romanos 2:5-6; Salmos 51:4; 119:137; Naum 1:2-3), quanto na libertação de outros (Romanos 3:21-22). “Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo” (Deuteronômio 32:4).

O amor e a justiça de Deus não são incompatíveis; ambos são naturais a Ele em um grau superlativo. O amor de Deus é sempre exercitado nos limites da justiça, e Ele sempre faz cumprir a Sua justiça de forma amorosa. Seu amor é completamente justo, e Sua justiça é inteiramente amorosa – esta é a natureza de Deus.

Isto significa que, por um lado, enquanto Ele é amoroso, Deus não irá suportar que o homem pise em Sua santa lei. Permitir que a propagação do pecado continue não é amor. Ele deve, e irá punir o pecado plenamente. Isto deveria produzir temor de pecar contra um Deus justo que “aborreces a todos os que praticam a iniquidade” (Salmos 5:5-6). Diante da justiça de Deus, o homem precisa espontaneamente temer e tremer, permitindo que o terror do Senhor o motive a buscar a remissão pelos seus grandes pecados, no sangue de Cristo.

Por outro lado, isto significa que Deus, dentro da Sua justiça, exercita Seu maravilhoso amor através de Seu Filho, Jesus Cristo. Nós vemos o amor do Pai, ao enviar o Filho; o amor do Filho, ao suportar os pecados do Seu povo; e o amor do Espírito, ao aplicar os benefícios da salvação. Todas as três Pessoas exercitam a profundidade do eterno, soberano, infinito e imutável amor. Nenhum homem, quando contempla a sua fonte, pode senão ficar cativado em espanto e admiração pelo amor majestoso do santo Deus.

O amor e a justiça de Deus são melhor compreendidos ao se observar os contornos do evangelho. Ali, Deus mostra publicamente Sua justiça (Romanos 3:21-26) e demonstra Seu amor (Romanos 5:8). A cruz do Calvário é aonde o amor e a justiça de Deus se encontram (Salmos 85:10). Em Cristo, a justiça de Deus não está contra, mas a favor do Seu povo. O povo de Cristo está tão completamente unido a Ele, que a justiça de Deus não irá permitir que eles recebam nada além do que é a recompensa de Cristo: a vida eterna na glória. Adicionalmente, em Cristo, o amor de Deus é irrestrito em conceder Suas dádivas (Sofonias 3:17; Tiago 1:17). O exercício da Sua justiça e do Seu amor acontece simultaneamente no evangelho, ambos para a glória de Deus e para o bem do Seu povo.


O Senhor é misericordioso (Jonas 4:2). A misericórdia de Deus é a Sua bondade ou benevolência para com uma pessoa em miséria (Mateus 9:27). O apóstolo Paulo escreveu, “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação!” (2 Coríntios 1:3). Preste atenção na ordem. Deus é, primeiramente, o Pai de Jesus Cristo, e então o nosso Pai, se estamos em Cristo. Cristo tem tudo em primeiro lugar, e nós recebemos tudo à partir Dele. Ele é o Primogênito, e nós somos os outros filhos. Ele é o primeiro amado de Deus, e nós somos amados Nele. Ele é preenchido primeiramente com graça, e nós somos preenchidos à partir Dele (João 1:16).

Deus precisa ser primeiro o Pai de Cristo, e somente então o nosso Pai através da em Cristo, para que Ele possa ser “o Pai de misericórdias” para nós. A misericórdia de Deus precisa ver a justiça de Deus satisfeita. Um atributo de Deus não pode destruir o outro (Salmos 85:10). Deus não pode falhar em Sua própria justiça, mas ela precisa ser satisfeita por Cristo (Romanos 3:26). Cristo tomou para si a nossa natureza, para morrer por nós (Hebreus 2:14,17), para que Deus pudesse ser nosso Pai, apesar dos nossos pecados, pois Ele puniu os nossos pecados em Cristo, nosso fiador (Hebreus 7:22). Deus, portanto, à partir do seu coração de misericórdia, encontrou um caminho para que Ele pudesse nos fazer o bem, e juntar a Sua misericórdia com a Sua justiça. Deus é santidade; nós somos uma massa de pecado e corrupção. Mas Cristo morreu por nós, e Deus é o Pai de misericórdias para todos aqueles que estão em Cristo. Como a justiça de Deus para o pecado foi satisfeita, o obstáculo é removido e a torrente de misericórdias de Deus flui livremente.

Deus é misericordioso por natureza. O mar não é molhado mais naturalmente, o sol não brilha mais naturalmente, o fogo não queima mais naturalmente, e a gravidade não puxa os pesos para baixo mais naturalmente, do que Deus naturalmente mostra misericórdia quando a Sua justiça é satisfeita. Os atributos de Deus, tais como a Sua sabedoria e o Seu poder, iriam nos aterrorizar se estivessem apartados da Sua misericórdia. Contudo, se O conhecemos como o Pai de misericórdias, então todos os Seus atributos se tornam doces para nós. A Sua sabedoria irá planejar boas coisas para nós. O Seu poder irá nos livrar dos nossos inimigos. A Sua justiça irá nos vingar contra aqueles que nos fazem mal.

Deus glorifica a Si mesmo ao mostrar misericórdia. Deus é misericordioso antes de sermos convertidos. Ele atrasa a Sua ira e não pune o pecador imediatamente. Deus é misericordioso no perdão de todos os pecados, na punição e no culpa, quando nós confiamos em Cristo. Deus é misericordioso na correção de alguns dos pecados dos Seus filhos (Hebreus 12:6), enquanto deixa passar muitos pecados, e modera a Sua correção com gentileza e no tempo perfeito. Ele é misericordioso na continuação das nossas bênçãos diárias. Se nós temos conforto, isto é misericórdia. Se nós temos força, isto é misericórdia. As Suas misericórdias não falham, mas renovam-se cada manhã (Lamentações 3:22-23). Tudo que vem de Deus para os Seus filhos é mergulhado em misericórdia.

Quando Deus é severo com pecadores, na Sua justiça, é por causa do erro deles. O Seu coração é misericordioso (Lamentações 3:33). Ele é bom em Si mesmo. Nós O provocamos para ser severo na justiça. Contudo, em Sua própria natureza, Ele “tem prazer na misericórdia” (Miquéias 7:18). Portanto, Ele será misericordioso com todo aquele que se arrepender dos seus pecados e se apossar de Cristo, através de uma fé verdadeira. Este é o nome pelo qual Deus quer ser conhecido, “compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade” (Êxodo 34:6). Os Salmos nos falam a mesma coisa, mais e mais (Salmos 86:15; 103:8,13; 111:4; 116:5; 145:8-9).
As promessas de Deus são promessas de misericórdia. Sempre que um pecador se arrepende, independentemente de quantos ou quão maus os seus pecados possam ser, Deus irá esquecer-se de todos eles (1 João 1:7). A Bíblia fala para a alma culpada: “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Isaías 55:7). Nós somos vingativos, rápidos para nos ofendermos e procurarmos vingança. Nossos pensamentos de misericórdia são pobres e estreitos, porque somos tão inclementes e sem piedade. Mas os pensamentos de Deus estão acima dos nossos pensamentos, e os Seus caminhos estão acima dos nossos caminhos (Isaías 55:7-8). A misericórdia de Deus é infinita!

11/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A FIDELIDADE DE DEUS
No levantamento das ruínas de Jerusalém, Jeremias está em sofrimento profundo. No entanto, ele vê evidência de que Deus preservou a verdade e o pacto para sempre, e não irá, de maneira nenhuma, abandonar as obras das Suas mãos. Um remanescente foi poupado. O profeta vê que Deus não rejeitou o Seu povo, nem se esqueceu de ser gracioso (cf. Salmos 77:5-9). Uma nova aurora despontou, e junto com ela, novas misericórdias para aqueles que esperam no Senhor.
A fidelidade de Deus é o desenrolar do Seu infinito, eterno, e imutável ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade, e verdade. Pode-se confiar no que Ele diz. O que Ele promete pode ser procurado e obtido posteriormente. Todas as suas obras são realizadas em sabedoria e em amor. Então, Davi exorta-nos a confiar “nele, ó povo, em todo tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio” (Salmos 62:8).

A verdade permanece no coração do conceito bíblico de fidelidade. Os Divinos de Westminster enraizaram a autoridade da Escritura em “… mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor...” (Confissão de Fé de Westminster, 1.4). Boa parte da Bíblia é a história que mostra que Deus preserva a Sua Palavra, abençoando quando ele promete abençoar, punindo quando Ele ameaça punir, enviando juízo sobre pessoas ímpias e perversas que não se arrependem, e salvando aqueles que clamam a Ele por salvação e vida. O ponto central desta história da fidelidade divina é a promessa de um Salvador (Gênesis 3:15), que foi confirmado pelos profetas e cumprido na vinda do Senhor Jesus Cristo (Lucas 1:54-55,68-75).

Nos tempos antigos, os deuses pagãos eram vistos como cheios de caprichos e egoístas. O favor deles, desta forma, tinha que ser cortejado com votos e sacrifícios de todos os tipos, e eles não eram confiáveis, uma vez que a sua própria conduta era descrita como amoral, ou até mesmo imoral. Eles seguiam as concupiscências de seus próprios corações; cometiam crimes atrozes de assassinato, adultério, e estupro; escolhiam favoritos entre os filhos de homens; e bradavam em uma raiva cega se os seus desejos eram frustrados. Eles eram grandemente temidos, mas não podiam ser amados ou dignos de confiança.

Moisés proclama uma visão radicalmente diferente de Deus, registrando os tratos fiéis de Deus com Abraão e sua semente, conforme Ele guarda o pacto através de muitas gerações. Ao invocar o mesmo registro de fidelidade divina, Malaquias proclama estas palavras de Deus: “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias 3:6). A epístola aos Hebreus, de igual maneira, exalta “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus 13:8).
Os cristãos erram no que diz respeito à fidelidade de Deus em, pelo menos, dois modos. Um deles ocorre ao tomarem as promessas de Deus como garantidas, como se nada fosse requerido de nós no pacto com Deus. Em todos os pactos existem duas partes: promessas do pacto e obrigações do pacto. Todas as promessas de Deus são feitas pela “fé que atua pelo amor” (Gálatas 5:6). Desta forma, Davi declara que “a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos, para com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos e os cumprem” (Salmos 103:17-18). Nós devemos nos apegar a este Deus e confiar Nele com todo o coração, a alma, a mente e a força, esquecendo-nos do mundo, crucificando a velha natureza, e andando na nova e piedosa vida (cf. “Formulário Reformado Holandês para a Administração do Batismo”).
O outro erro ocorre ao limitarmos a fidelidade de Deus apenas às coisas que nós vemos como positivas e benéficas. Isto significa menosprezar “a correção que vem do Senhor” (Hebreus 12:5-6). As cruzes que carregamos nesta vida não ocorrem por acaso, mas pela mão paterna de Deus (vv. 7-13). “Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra” (Salmos 34:19). Coisas ruins acontecem com pessoas boas, como parte do desígnio de Deus para aqueles que O amam e são chamados de acordo com o Seu propósito em Cristo, e nada pode separá-los do Seu amor (Romanos 8:28-29,38-39).

12/57 - A DOUTRINA DE DEUS — A AUTORIDADE E INERRÂNCIA DA ESCRITURA
A autoridade e inerrância da Sagrada Escritura são o alicerce sobre o qual o verdadeiro Cristianismo repousa. Nós dependemos do testemunho da Escritura para tudo aquilo que consideramos verdade no que diz respeito a Deus, ao homem, e ao caminho de salvação em Cristo. Os grandes eventos da história da redenção, tais como a incarnação do Filho de Deus na pessoa de Jesus Cristo, a Sua morte expiatória, a Sua ressurreição gloriosa, e a Sua ascensão ao Céu, estão registrados apenas na Escritura. Se a declaração da Escritura não for confiável e convincente, então nós não temos nenhuma base para a nossa fé e nada para ordenar a nossa obediência.

A escritura tem autoridade porque ela é a Palavra de Deus. Deus é primeiramente revelado como o Criador que fala com autoridade convincente para chamar a criação à existência, a partir do nada (Gênesis 1). A palavra criativa foi executada pelo Espírito Santo, que assegura o resultado pretendido pelas palavras que foram ditas. Desde aquele tempo até a vinda de Cristo, Deus continuou falando através dos Seus servos, os profetas. Na pessoa do Seu Filho, Deus falou Sua palavra definitiva, oferecendo graça, perdão, e vida eterna para todos aqueles que crerem em Cristo (Hebreus 1:1-3).

Movidos pelo testemunho do Espírito Santo, cristãos confessam que a Palavra de Deus é verdadeira e confiável, em tudo aquilo que ela afirma. Se as doutrinas fundamentais da nossa fé forem desafiadas por qualquer um, nossa resposta deve ser, “assim disse o Senhor”. Isto igualmente se aplica no que diz respeito ao que o homem acredita em relação a Deus, ou qual é o dever que Deus requer do homem. Como uma regra ou autoridade para a fé e a vida, não existe nada em comparação com a Escritura, que permanece única e suprema.

Esta autoridade se estende igualmente a todos os sessenta e seis livros da Escritura. Embora revelada “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hebreus 1:1) e mediada através de uma plêiade de escritores humanos, “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16). Ela procede de Deus como a respiração procede do corpo. A Escritura é o produto de uma mente divina e fala com uma voz divina: “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21).

A autoridade da Escritura implica em sua inerrância. Sendo a Palavra do “Deus que não pode mentir” (Tito 1:2), ela não pode errar ou extraviar-se do caminho da verdade: “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio” (Salmos 119:160). Tal era a fé da igreja do Antigo Testamento, que um cuidado muito zeloso foi tomado pelos seus escribas para preservar cada palavra e letra do texto da Escritura. O próprio Cristo confessa, “a tua palavra é a verdade” (João 17:17).

Tem ocorrido uma vã tentativa de distinguir a inerrância da infalibilidade, por parte daqueles que desejam manter a autoridade da Escritura, enquanto fazem a concessão para as declarações de especialistas descrentes sobre a Escritura conter muitos erros dos autores dos livros e daqueles que transmitiram o texto. Esta tentativa falha porque as duas palavras são sinônimas, e porque se na Bíblia existissem erros em algum ponto, poderiam haver erros em todos os pontos e, portanto, não poderia haver confiança nela.
Quando afirmamos a infalibilidade e inerrância das Sagradas Escrituras, nós não atribuímos qualquer qualidade a meros seres humanos cujas tarefas são lê-las, traduzi-las, e expô-las. Não há ofício alto o suficiente na igreja para conferir infalibilidade do homem que o ocupa. Não existe suficiente grau de aprendizado nas linguagens da Escritura e na história da sua interpretação para assegurar inerrância da parte de estudiosos e professores da Bíblia, e muito menos da parte da contrapartida secular. Nenhuma tradução das Escrituras Hebraica e Grega é absolutamente perfeita como uma representação da Palavra de Deus inspirada; nenhuma tradução é tão boa que não possa ser melhorada. Por causa da nossa compreensão limitada, de tantas formas, a leitura e a interpretação da Bíblia precisa ser um empreendimento de fé. Nós devemos confiar em Cristo como o nosso maior Profeta, no abrir dos nossos olhos para as coisas surpreendentes ensinadas na Escritura, e para conduzir-nos a uma correta compreensão e fiel aplicação delas.

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